7 de dez. de 2010

convém iniciar falando de tempo porque eu gosto de reclamar do tempo. a temperatura das coisas nunca me agrada, sou do tipo que gosta de comida fria, sorvete no inverno, ninguém entende. enfim, convém dizer que no brasil está acontecendo todo um verão fora de época, estou confusa e nem sei em que mês estamos mais.

também é conveniente lamentar pelas pessoas que estão longe – ou perto demais, dependendo do quanto se quer fugir delas. enfim, lamentar os encontros e desencontros, o inferno de tentar existir no meio de tanta gente tentando existir ao mesmo tempo.

lembra da época em que conhecer uma pessoa, um lugar, uma banda por fim de semana era a verdadeira vida acontecendo? pois é, passou. agora é o agora e seus bares de sempre, as pessoas que conquistamos pra sempre ou as que insistiram em ficar. e as lembranças. a sensação é a de que eu perco muito do que fica pra trás e que carrego muito do que poderia simplesmente abandonar. muita coisa passando, só eu continuo, eu insisto aqui no meio de tudo que passa ou que não quer passar.

não tenho medo de envelhecer. eu só não quero. também não quero ser nova pra sempre, é chato, é cafona, me lembra um desses velhos que ainda estão nas pilhas de comer as jovenzinhas mas moram em uma carcaça de peles flácidas, pêlos brancos no peito e impotência. daí as jovenzinhas preferem dar para os jovenzinhos, enquanto o velho frustra e perambula pelas madrugadas. eu não quero.

eu quero um pouco mais de tempo. eu quero parar um pouco. acostumar. nunca vou me acostumar com a velocidade das coisas.

o valor dos sábados está diretamente ligado à raridade dos sábados e o valor das pessoas queridas está relacionado à falta que se sente delas. no mundo ideal, todo dia seria dia mundial da pizza, que por sua vez cairia sempre numa sexta feira e então você estaria sempre por perto, meus amigos que sumiram estariam por perto, os amigos novos também, ouviria as velhas e novas histórias e riria o meu riso de sempre, que a duras penas consegui manter.

você acha que as pessoas sabem viver? elas sabem que só existe uma chance? sabem escolher? descartar? eu não sei. a gente não quer perder tempo, mas também não sabe como proceder.

16 de set. de 2010

Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

27 de jul. de 2010

Caminhava pra casa com aquele vento no rosto. Era um vento quente, estranho. Chamou de bafo de fim de mundo. E gostou de pensar em fim de mundo… e se acabasse mesmo? Não acreditava naquilo mas prosseguiu, listando mentalmente as coisas que gostaria de fazer antes do fim.

Gostaria de abraçá-lo. É, de abraçá-lo tão somente. Claro que também desejava todas as outras coisas, mas na urgência de um mundo no fim, gostaria de abraçá-lo bem forte, sentir seu corpo, respirá-lo, passar a mão por seus cabelos e não dizer uma só palavra – medo enorme de dizer bobagem.

E então esqueceria todos os outros afazeres de antes do fim. Nada mesmo estava parecendo tão importante quanto guardar para uma suposta eternidade aquele abraço bem dado.

Ah! a porta. Precisava abrir a porta.

Sacudiu a cabeça como quem desfaz uma nuvem de pensamentos se formando sobre ela. Um abraço pra sempre, pensou. Mas apesar da insistência do cretino vento quente, não parecia que o mundo terminaria em breve. Será?

Girou a chave, entrou. E se foi o vento. Mas ficaram as idéias sobre o que queria fazer. E se terminasse agora, ela ali, no elevador, sem poder fazer nada? Aquilo pareceu terrível! Um andar. Mais outro. Mais outro. Em casa, ótimo!

E embora abraços não fossem possíveis dali, sentiu-se mais segura em relação ao fim. Poderia ligar pra ele, não poderia? Mas as palavras faladas… tinha tanto medo delas! Era tão ruim com elas, tão atrapalhada, tão com medo de parecer ridícula demais, empolgada demais, contente demais, menina demais…

6 de jun. de 2010

Oi, blog. Como vai?


Eu? eu estou ótima, obrigada!
O que aconteceu que eu nunca mais escrevi? Aconteceu vida demais. dor, mudanças, perdas, pessoas, orgulho. Aconteceu que eu perdi meus valores, a minha essência.
Mas hoje eu voltei, hoje foi um dia bem importante pra mim. Porque pela primeira vez eu vi ele saindo pela porta e meu coração continuou calmo. Ao inves de planejar meu dia, de ocupar minha cabeça pra não pensar nele, eu voltei pra cama, ainda quente, e dormi mais, até meu corpo começar a reclamar. Acordei e quis ficar de pijama, pra ter o gostinho de sabado preguiçoso de inverno. O dia foi calmo: não tive vontade de fazer unha/cabelo/depilação, não fiquei fuçando o Orkut, e perdendo tempo na frente do computador.
Hoje eu resgatei a calmaria da minha alma. não sofri, não me preocupei, não procurei, não me desesperei, não chorei, nem senti falta.

Sabe o gostinho bom da nostalgia? de quando a nossa unica preocupação era -Não quero acordar cedo pra ir pro colégio nesse frio..! - é! nostalgia daqueles dias em que eu chegava do colegio, almoçava, me enrolava no mesmo cobertor azul de vinte anos (que a propósito, estou enrolada agora) e ia pro pc, ouvir música boa, conversar com aqueles melhores amigos de longe, bloggar, porque nessa epoca nem fotolog existia. Alguém lembra do Blig? Existe ainda? Eu sabia até mexer com html, templates. era aí que eu perdia minhas tardes.

Meu sabado não foi nada demais, mas o gostinho de PAZ que eu não tinha há muito. me fez sentir muito bem.

Queria isso sempre, dias frios, Interpol, leite com nescau e pão caseiro com margarina prensado, um amigo pra dar umas risadas, filme, fandangos, coca, cobertor, bolo de laranja, romance pra eu dormir melhor. -já que hoje não tenho ele pra me abraçar e falar baixinho no meu ouvido até eu dormir.-
Essa deve ser a dose certa de tudo na minha vida, pra eu me manter em equilibrio. É verdade que eu sou bem melhor/inteligente/controlada solteira, mas é mais verdadeiro ainda o fato de eu ser totalmente dependente do amor. então, assim tá bom, porque sei que amanhã ja to dormindo de conchinha de novo, e pelo resto da semana também. Porisso eu ainda tô acordada, porque hoje a noite é minha, e só minha! Pra ficar sem roupas (sem ter a intenção de transar)debaixo de edredon e corbertor, pra ouvir as melhores musicas do mundo, pra falar do que eu quiser com quem eu quiser, pra matar saudade de pessoas, pra cantar em voz alta enquanto visito sites inteligentes internet adentro, pra sonhar, refletir, pra seu eu mesma denovo.

Mas sei que se isso tudo durar demais, já vou sentir falta de alguem me acariciando ou reclamando de como eu esquento o cobertor, esticando o pescoço pra ler mnhas conversas, ou trocando de musica toda vez que eu me distraio.
Tomara que continue assim, que dure tempo o suficiente pra eu me sentir completa de novo, e que acabe antes que eu perceba que o amor acima de todas as coisas também me faz uma puta falta.




E que eu escreva mais, porque é uma coisa que relaxa a gente, sabe?
Beijos, Blog. and be sweet :)

23 de fev. de 2010

Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso.

15 de jan. de 2010





que minha solidão me sirva de
companhia, que eu tenha a coragem de me enfrentar, que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.

13 de jan. de 2010












...nós sofremos todos os dias, pra que serve isso? esses crimes ilusionários estão nos enganando eu sei que estou cansada...e eu me sinto assim é só você que consegue me rasgar, que consegue transformar meu coração estúpido. eu consigo ver, egoistamente, essa manhã como nós falhamos...