27 de jul. de 2010

Caminhava pra casa com aquele vento no rosto. Era um vento quente, estranho. Chamou de bafo de fim de mundo. E gostou de pensar em fim de mundo… e se acabasse mesmo? Não acreditava naquilo mas prosseguiu, listando mentalmente as coisas que gostaria de fazer antes do fim.

Gostaria de abraçá-lo. É, de abraçá-lo tão somente. Claro que também desejava todas as outras coisas, mas na urgência de um mundo no fim, gostaria de abraçá-lo bem forte, sentir seu corpo, respirá-lo, passar a mão por seus cabelos e não dizer uma só palavra – medo enorme de dizer bobagem.

E então esqueceria todos os outros afazeres de antes do fim. Nada mesmo estava parecendo tão importante quanto guardar para uma suposta eternidade aquele abraço bem dado.

Ah! a porta. Precisava abrir a porta.

Sacudiu a cabeça como quem desfaz uma nuvem de pensamentos se formando sobre ela. Um abraço pra sempre, pensou. Mas apesar da insistência do cretino vento quente, não parecia que o mundo terminaria em breve. Será?

Girou a chave, entrou. E se foi o vento. Mas ficaram as idéias sobre o que queria fazer. E se terminasse agora, ela ali, no elevador, sem poder fazer nada? Aquilo pareceu terrível! Um andar. Mais outro. Mais outro. Em casa, ótimo!

E embora abraços não fossem possíveis dali, sentiu-se mais segura em relação ao fim. Poderia ligar pra ele, não poderia? Mas as palavras faladas… tinha tanto medo delas! Era tão ruim com elas, tão atrapalhada, tão com medo de parecer ridícula demais, empolgada demais, contente demais, menina demais…

Nenhum comentário: